sábado, 31 de janeiro de 2015

sábado, 24 de janeiro de 2015

Coisinhas

Sempre detestei o poucochinho. Sou mulher de um bom tudo ou nada.

Mas tenho aprendido a apreciar o valor de coisas pequenitas, quase insignificantes, algumas delas até más mas que à luz de outras parecem boas, coisas desprezíveis para a maior parte das pessoas... E como eu queria viver essa ignorância também...

Damos por certo o falar, o comer ou o acto de andar. Mas nada é certo. Há pouco tempo, tive uma paralisia na língua - felizmente, reversível - e percebi como ela é grande, como estorva quando não serve, como humilha quando não se deixa usar... E assim por diante, com todas as funções do corpo. Deixem elas de colaborar, seja lá pelo que for, e é o cabo dos trabalhos.

Acordar sem náuseas, uma benção. Não ter dores de cabeça, outra. Falar e conseguir comer, bestial, não ter dores nas pernas e arranjar energia para caminhar 100 metros, fantástico.
Ir fazer um exame para descobrir qualquer coisa horrível e não nos magoarem na picada do contraste. Tão bom!! Quem se importa com a picada? Eu importo-me. E gosto, além disso, de receber um sorriso e uma festinha na cara, como aconteceu da última vez. São tantas as coisinhas, as merdinhas, as insignificâncias que afinal existem, que afinal contam, que importam...

Ainda gosto de um bom tudo ou nada mas há em mim um novo eu que insiste em me confundir e atrapalhar as ideias.

T.







terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Ameijôas e morfina

Não há muitos dias assim.
Acordei nauseada e com fortes dores de cabeça. Comi e vomitei de imediato. O Júnior foi comigo ao hospital, fiz análises, estavam boas, até melhores do que as anteriores (?). O exame à cabeça não revela causa para as dores, que começaram há meses e, desta leva, persistem há semanas. Há que fazer mais exames. Entretanto, e como as dores não passam com analgésicos "normais", passei à consulta da dor. E chegou a morfina, aquela que bate forte na cabeça e no coração dos doentes de cancro. "Coitado, já está a morfina". Sou eu agora, também, uma das coitadas.
Mas mais coitada sou com dores de cabeça excruciantes. Venha a moca.

Terminadas as "hostilidades" no hospital (onde não podia ter sido mais bem tratada mas de onde sabe sempre bem fugir) deu-me a fome. O enfermeiro-chefe (hoje reganhou o título) levou-me a um restaurante aqui perto de casa onde comi umas belas ameijôas que me souberam a pouco e que não vomitei.

Durante o resto do dia, não houve nem mais dores nem mais vómitos. Fiquei na dúvida: ameijôas ou morfina? Enquanto der, fico-me pela primeira. Quanto me estrear na segunda, logo conto como foi.

T.





sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Dia 2

Hoje almoçámos num japonês, a Jô e eu. Novidade! A minha filha abre-se a novos sabores, eu aproveito a companhia.
Pensar que quando o pesadelo começou ela tinha 5 anos e hoje, aos 12, estamos a duas a almoçar sushi e sashimi, leva-me a dar graças, muitas graças pelos maravilhosos anos que temos tido juntas.


Logo que a Joana nasceu eu percebi que deveria ter começado a ter filhos muitos anos antes. Não aconteceu... Mas felizmente, ainda tive a oportunidade de viver este papel, certamente o maior, o melhor, o mais gratificante de toda a minha vida.
Grande companheira! Feliz, corajosa, amiga do seu amigo, refilona com a mãe, emotiva, carinhosa, inteligente... um sem fim de coisas boas que têm feito de mim uma mãe muito orgulhosa e uma pessoa muito melhor.
T.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Dia 1


Não tomámos banho mas fomos à praia. Estava um dia lindo, a não desperdiçar. E espero assim ter dado o mote para 2015: aproveitar tudo ao máximo, todos os minutos, todas as oportunidades de me sentir bem e feliz. Porque a felicidade é feita de momentos, por vezes demasiado breves, há que descobrir os bons e não os largar. Mais do que um prazer, nesta altura da minha vida, é mesmo uma obrigação, que tentarei cumprir. 




A primeira foto do ano é com o Júnior, o companheiro de todas as horas. Se um casamento já é uma tarefa difícil de levar a bom porto, um casamento com uma mulher com o meu feitio e na minha situação, só pode ser perto, muitas vezes, um pesadelo. E ele ali está, a fazer da minha vida um pesadelo ainda maior do que já é, com a sua recusa em desviar-se daquilo que decretou como missão: não nos deixar cair em desgraça, não se deixar cair em desgraça. Uma irritação. O homem não se lamenta, o homem não chora, o homem não desespera com o presente nem sequer com o futuro, não falta ao trabalho para andar comigo ao colo, o homem não larga os jogos de futebol na TV, uns atrás dos outros, o homem não deixa de tocar bateria, o homem não para para chorar comigo, para falar sobre a minha morte, sobre o que nos desgraçou a vida, sobre como a nossa filha sofrerá quando o cancro me ganhar, sobre como ele sofrerá... 
E assim, com este comportamento, lá me obriga a levantar-me e ir acordar a miúda, a tratar dela e de mim, e dele às vezes também, a ir buscá-la à escola nos meus dias, a ir à compras, a fazer almoços e jantares, a trabalhar e a divertir-me, a jantar fora, a ter amigos e vida própria, quando tudo o que faria sentido era passar o dia na cama, a dormir e a chorar a minha sorte. Raios partam o homem!
T.





2015!

E contra todas as (minhas) baixas expectativas, aqui estou eu a ver a luz do primeiro dia de 2015!