Sempre detestei o poucochinho. Sou mulher de um bom tudo ou nada.
Mas tenho aprendido a apreciar o valor de coisas pequenitas, quase insignificantes, algumas delas até más mas que à luz de outras parecem boas, coisas desprezíveis para a maior parte das pessoas... E como eu queria viver essa ignorância também...
Damos por certo o falar, o comer ou o acto de andar. Mas nada é certo. Há pouco tempo, tive uma paralisia na língua - felizmente, reversível - e percebi como ela é grande, como estorva quando não serve, como humilha quando não se deixa usar... E assim por diante, com todas as funções do corpo. Deixem elas de colaborar, seja lá pelo que for, e é o cabo dos trabalhos.
Acordar sem náuseas, uma benção. Não ter dores de cabeça, outra. Falar e conseguir comer, bestial, não ter dores nas pernas e arranjar energia para caminhar 100 metros, fantástico.
Ir fazer um exame para descobrir qualquer coisa horrível e não nos magoarem na picada do contraste. Tão bom!! Quem se importa com a picada? Eu importo-me. E gosto, além disso, de receber um sorriso e uma festinha na cara, como aconteceu da última vez. São tantas as coisinhas, as merdinhas, as insignificâncias que afinal existem, que afinal contam, que importam...
Ainda gosto de um bom tudo ou nada mas há em mim um novo eu que insiste em me confundir e atrapalhar as ideias.
T.